domingo, 26 de janeiro de 2014

ROLEZINHOS

26/01/2014
 às 6:57 Fragmento do texto de Reinaldo Azevedo, em seu blog, na Veja.com


O pau volta a comer em São Paulo. Incentivo à baderna vem hoje do Palácio do Planalto e do PT. E digo por quê

Carro particular é incendiado por vândalos durante protesto (Foto: Tiago-Chiaravalloti-Futura-ress-Folhapress)
Carro particular é incendiado por vândalos durante protesto (Foto: Tiago-Chiaravalloti-FuturaPress-Folhapress)
Sim, vou comentar a baderna que alguns bandidos disfarçados de manifestantes promoveram em São Paulo neste sábado, num protesto contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, que reuniu, segundo a PM, 1.500 pessoas. Como sempre, depredação de lojas e ônibus, um veículo incendiado confronto com a polícia. E, para não variar, lá estavam os mascarados. O texto vai ficar longo. Mas tempo não lhes falta neste domingão, certo? Vamos lá. No Rio também houve alguma confusão. Em outras capitais, a convocação não reuniu mais do que algumas dezenas. Para que trate do evento de ontem, no entanto, preciso recuperar algumas coisas. Terei de falar um pouco dos rolezinhos e da reação do governo federal e dos petistas ao fenômeno. Vamos lá.
Manifestante com um lança-chamas. Ninguém vai chamá-la de "pacífica" (Foto: Ivan Pacheco)
Manifestante com um lança-chamas. Ninguém vai chamá-la de “pacífica” (Foto: Ivan Pacheco)
Escrevi neste blog meu primeiro texto sobre os rolezinhos no dia 13 de janeiro. É curto, meus caros, e vale a pena reproduzi-lo na íntegra. Mui modestamente, a minha bola de cristal antecipou o que viria com impressionante precisão. Releiam (em azul).
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Esquerdistas bocós (existem os não bocós?) já estão de olho no “rolezinho”. Aqui e ali, noto a vocação ensaística de alguns dos meus coleguinhas na imprensa. Já há gente, assim, treinando o olhar para teorizar sobre mais essa erupção — e irrupção — da luta de classes. É fácil ser bobo. Fosse mais difícil, não haveria tantos bobalhões. Daqui a pouco o Gilberto Carvalho chama os teóricos dos “rolezinhos” para um bate-papo no Palácio do Planalto.
O “rolezinho”, que até pode ter começado como uma brincadeirinha irresponsável nas redes sociais, está começando a virar, vejam vocês!, uma questão política — ao menos de política pública. A coisa pode se tornar mais séria do que se supõe. Infelizmente, noto que muita gente, inclusive na imprensa, está tentando ver essas manifestações como se fossem uma espécie de justa revolta de jovens pobres contra templos de consumo da classe média.
Isso é uma tolice, um cretinismo. Os shoppings têm se caracterizado como os mais democráticos espaços do Brasil. São áreas privadas de uso público, muito mais seguras do que qualquer outra parte das cidades brasileiras. Os pais preferem que seus filhos fiquem passeando por lá a que façam qualquer outro programa, geralmente expostos a riscos maiores. É uma irresponsabilidade incentivar manifestações de centenas ou até de milhares de pessoas num espaço fechado. Ainda que parte da moçada queira apenas fazer uma brincadeira, é evidente que marginais acabam se aproveitando da situação para cometer crimes, intimidar lojistas e afastar os frequentadores.
Esse negócio de que se trata de uma espécie de revolta dos pobres contra os endinheirados é uma grossa bobagem. Boa parte dos shoppings de São Paulo, hoje em dia, serve também aos pobres, que ali encontram um espaço seguro de lazer. A Polícia precisa agir com inteligência para que se evite tanto quanto possível o uso da força. É necessário mobilizar os especialistas em Internet da área de Segurança Pública para tentar identificar a origem dessas convocações.
É preciso, em suma, chegar à raiz do problema. As redes sociais facilitam essas manifestações, como todos sabemos, mas é evidente que elas não são espontâneas. Há pessoas convocando esse tipo de ação, que pode, sim, como se viu no Shopping Metrô Itaquera, degenerar em violência.
No dia em que os shoppings não forem mais áreas seguras, haverá fuga de frequentadores, queda de vendas e desemprego. E é certo que estamos tratando também de um sério problema de segurança pública. Num espaço fechado, em que transitam milhares de pessoas, inclusive crianças, os que organizam rolezinhos estão pondo a segurança de terceiros em risco.
E que ninguém venha com a conversa de que se trata apenas do direito de manifestação num espaço público. Pra começo de conversa, trata-se, reitero, de um espaço privado aberto ao público, que é coisa muito distinta. De resto, justamente porque os shoppings têm essa dimensão pública, não podem ser privatizados por baderneiros que decidiram ameaçar a segurança alheia.
Encerro notando que o Brasil precisa ainda avançar muito na definição do que é público. Infelizmente, entre nós, muita gente considera que público é sinônimo de sem-dono. É justamente o contrário: o público só não tem um dono porque tem todos.
Retomo
Como se pode ver:
1: nego que os rolezinhos tenham um caráter político:
2: nego que os rolezinhos sejam fruto da exclusão social;
3: nem especulo sobre a possibilidade de ser uma criação do PT; é claro que não é!;
4: aponto o óbvio: shoppings são espaços que também servem aos moradores da periferia;
5: afirmo que têm de ser coibidos por uma questão de segurança.
6: O QUE CONDENO NO MEU TEXTO É A TENTATIVA DAS ESQUERDAS DE POLITIZAR O ROLEZINHO. É PRECISO SER MUITO BURRO PARA AFIRMAR QUE EU ATRIBUO ESSES EVENTOS ÀS ESQUERDAS. O diabo é que há gente burra aos montes — e outras tantas de má-fé.
E muitos outros textos se seguiram a esse. E não adotei tal ponto de vista apenas aqui, é claro! Afirmei a mesma coisa na Rádio Jovem Pan. Na Folha, na  coluna no dia 17, escrevi:
“Setores da imprensa e alguns subintelectuais, com ignorância alastrante, tentaram ver o “rolezinho” como manifestação da luta de classes.” Ou ainda: “Jovens que aderem a eventos por intermédio do Facebook não são excluídos sociais, mas incluídos da cultura digital, que já é pós-shopping, pós-mercadoria física e pós-racial.”
Mais:
“Não se percebia, originalmente, nenhuma motivação de classe ou de “raça” nessas manifestações. Agora, sim, grupos de esquerda, os tais “movimentos sociais” e os petistas estão tentando tomar as rédeas do que pretendem transformar em protesto de caráter político.”
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AGORA, DIGO EU:
Uma coisa é carta: o brasileiro não está mais  tão pacífico
 como se apregoa.

Ve-se, portanto, que a massa está querendo fazer algo, mas não sabe o que. Como se comportariam os hóspedes do planalto central se os "rolezinhos" mudassem o palco para apresentação do espetáculo? Se os “pobres da periferia” resolvessem ocupar espaços públicos como o prédio do Congresso Nacional ou a sede do Governo Federal, ou os prédios dos Ministérios ou até afrontar a Polícia Federal e ficassem plantados, lendo a bíblia, aos milhares, no estacionamento dessas instituições? Motivos não faltam para se fazer protestos contra os políticos e os governos. Vai chegar a hora de manifestantes invadirem a Papuda para soltar os presos. Com uma parte da cúpula do PT na cadeia "tocar fogo no mundo" pode igualar a todos e facilitar para quem está atrás das grades. Mas, nos espaços privados de uso público, pode?
 Perto de campanhas políticas para eleições todo mundo procura faturar. O negócio é ideologizar qualquer tipo de protesto. Serve a alguns. 

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