sábado, 8 de novembro de 2014

SEDUTORAS (?) e PERIGOSAS (?)

SOBRE "CRISES NERVOSAS"
 (EM PESSOAS AGRESSIVAS QUE PRECISAM DE TRATAMENTO AMBULATORIAL ESPECIALIZADO)
por alvaro


Certo é que a ansiedade faz parte de nosso aparato de defesa enquanto alerta, preparação para situações de risco, de luta ou de fuga. É nosso legado evolutivo e reflete uma adaptação para vencermos obstáculos. A ansiedade, portanto, muda o comportamento das pessoas. E, pode mudar tanto e com tal freqüência que chega ao ponto de atrapalhar a vida e ganhar status de doença.  Para quem tem "crises nervosas", seja na forma de ansiedade generalizada ou na forma de ataque de pânico, vivencia uma experiência de sofrimento agudo, supostamente ameaçador - pensa em infarto do miocárdio, em morte iminente, as vezes descontrola-se e até perde os sentidos, quando não descontrola-se e agride. Embora sem o correspondente risco real de doença grave ou morte súbito, a experiência não é boa. Para ninguém é uma boa experiência. Não é boa para o paciente neurótico, nem para seus familiares, muito menos para os profissionais de saúde.

Os ser humano, em face do sofrimento, muitas vezes procura culpados, ao invés refletir sobre si mesmo, sobre as causas do  seu sofrimento, sobre o contexto em que está inserido quando da manifestação de seus sintomas. Agindo assim, abandonam o texto e embarcam no pretexto, para atingir outros, tentando  transferir assim, o afeto contido nos seus atos - seus problemas, suas aflições. Não é raro os familiares de pacientes descontrolados pela raiva não canalizada e diante de um evento desses que mobiliza muitas pessoas, serem seduzidos e embarcarem de pronto, sem refletir, quando se trata de crises histéricas, ansiedade generalizada ou ataques de pânico. 

Quando pacientes em "crises nervosas" procuram socorro em clínicas ou hospitais quem paga a conta, geralmente, são os recepcionistas, os enfermeiros e os médicos, quando não os diretores de hospitais e até os gestores do município. Basta não corresponder as expectativas exageradamente fantasiosas da idealização do paciente e de seu grupo familiar, para que os trabalhadores noturnos dos serviços de saúde, geralmente mal equipados, sobrecarregados de trabalho e mal pagos, levem a culpa pelo que o paciente ainda não percebeu - que a causa de seus males pode estar dentro de si mesmo; dele mesmo - o paciente com seu histórico de vida sofrido e desencontrado.

As pessoas portadoras de algumas patologias nervosas, principalmente no grupo das neuroses, tem um histórico que, se rastreado, fornece pistas. Na sua vida pregressa há as ocorrências que mostram não ser um episódio único, com uma só pessoa e diante de uma mesma dificuldade; as pistas de seus desencontros são marcadas nos mais diversos grupos sociais e nas mais variadas atividades: conflitos no seio da família, abandono da vida escolar, curto tempo em empregos, desentendimentos com amigos e vizinhos - mágoas, rancores, atitudes rudes e postura mal humorada...

Para que esses pacientes tenham uma melhora sintomática em seu quadro clínico, pacientes estes que levam uma vida muito atribulada, é preciso que seja esclarecido à família que os sintomas somáticos - falta de ar, palpitação, tontura, descontrole, transferência de responsabilidade e até desmaios, podem ser controlados - os profissionais que lidam com saúde mental tem algumas ferramentas, medicamentosas ou não, na forma de farmacoterapia ou de psicoterapia, para enfrentar o "Monstro da Meio Dia" com diz o título do livro sobre ansiedade que estou lendo agora. Médicos psiquiatras, psicólogos, terapeutas de um modo geral, seja qual for a sua formação, podem lidar com os sintomas neuróticos em ambiente apropriado, em consultórias, fora dos Pronto Atendimentos (P.A.), longe das Unidades de Urgência aberta para atendimento de casos de saúde com risco de vida eminente, em madrugadas, nos hospitais, quando, ao máximo, se pode atender a urgência e desmistificar o problema falando a verdade para o enfermo e para toda sua família, para encaminhar ao especialista, no consultório, em consultas pré-marcadas, aquele que "chegou morrendo". Mas, a verdade pode doer. O paciente é só a ponta do iceberg de um drama familiar mais complexo e profundo. Os profissionais de saúde, o pessoal que dá plantão em hospitais, está acostumado a reconhecer os sintomas e saber não se tratar de risco iminente de vida. Por isso não executam de imediato os procedimentos emergenciais como punção de veia, perfusão de oxigênio, desobstrução de vias aéreas, monitorização cardiovascular...Mas, independente de qualquer coisa,  é importante que o médico atenda o paciente, que possa examiná-lo, medicando sintomaticamente, mas sem mimá-lo e sem alimentar suas fantasiosas expectativas com solicitação de exames sofisticados, manobras de propedêutica desnecessáras ou terapêuticas inapropriadas ou inócuas como aquelas prescritas à base de vitaminas e "fortificantes" ou até mesmo, apenas, com tranquilizantes por prazo indeterminado, o que causa dependência, e, sem o devido diagnóstico pelo especialista, não irá tratar a causa.

Pessoas ditas complicadas, preguiçosas, temperamentais, agressivas, insinuadamente sedutoras; que afrontam, se confrontam e se descontrolam facilmente, são difíceis de se lidar; com elas não há meio-termo fora de seus desejos primitivos. Mas, essas pessoas precisam de tratamento na área de saúde mental, para que melhorem como pacientes e como pessoas, que possam ficar mais sociáveis. Essas pessoas enfermas sempre querem transferir culpa, se postar como vítimas, exagerar nos relatos, trocar os sinais dos relógios do tempo. 

Como são seus familiares que lhes transferiram a carga genética, mas também o ambiente social onde viveram, pois os que sofrem com transtornos mentais, viveram sua a infância e também sua adolescência interagindo com pais e irmãos, tios e avós: Por isso mesmo, a família é parte do elenco mas, também, é a primeira platéia. Juntos, pacientes e familiares procuram um jeito, seja propulsionado através de algum prestígio social, de uma denúncia caluniosa e fantasiosa para, de alguma forma jogar a culpa em outrem, para transferir a culpa para outros pessoas que se tornam seus alvos prediletos - que são escolhidas como para-raios. Neste caso, são os profissionais da área de saúde, os que trabalham em plantões noturnos ou nos finais de semana, os escolhidos como alvos de suas provocações ralas e desproporcionais. São difamadores por natureza pois, uma simples agressão pode diminuir muito sua carga de raiva e de ira, aliviando os sintomas, mesmo que temporariamente.  Adiante, os sintomas vão retornar de forma aguda, novamente e eles encontrarão rapidamente outros alvos. Um após o outro.

Alguns profissionais da saúde não afeitos às manifestações psíquicas patológicas, esquecem-se que mimando o enfermo, este pode virar um monstro social. E como monstro pode se tornar um demônio indomável e perigosamente destruidor. Tratar bem e adequadamente pessoas, de forma respeitosa e protocolar é preciso. Mimar, nunca. Lidar com histérico é tarefa para psiquiatra. Quem desejar saber mais sobre esta neurose, leia Freud, principalmente o caso clínico "Ana O" e os outros casos clínicos dos primórdios da psicanálise. Breuer e Freud eram neurologistas que a partir da observação e sintomas em seus pacientes, notaram não haver correspondência entre certas paralisias e a anatomia do sistema nervoso. Que não era um problema orgânico, mas psíquico. Que era mais aliviado com hipnose que com medicamentos. Que os sintomas poderiam ser removidos por psicoterapia.

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