quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

TERRORISMO E POLÍTICA

  
A MATANÇA É GERAL, LÁ E CÁ, 
por alvaro


Jornalista japonês, vítima mais recente de sequestro e condenação a morte por extremistas. 
O jornalista japonês Kenji Goto em imagem retirada de vídeo que teria sido gravado em Kobani, na Síria, em outubro de 2014
Dois terroristas fortemente armados e bem camuflados, invadiram a sede do Charlie Habdo em Paris  fuzilando 12 cidadãos indefesos, a maioria jornalistas que usavam a charge como ferramenta de comunicação de massa. O pecado dos jornalistas foi criticar o islã retratando em charge o profeta Maomé figura religiosa equivalente ao nosso Jesus Cristo no cristianismo. Há fortes indícios, para não dizer a certeza, de que organizações extremistas islâmicas planejaram e participaram da logística para que os terroristas cumprissem sua missão, para que chegassem ao final daquela empreitada com o sucesso que os radicais esperavam e desejavam - a aniquilação da vida de opositores ao islamismo, tanto que os executores gritaram "vingamos o Profeta". Pelo menos quatro grandes expoentes da charge, jornalistas franceses que inspiraram outros chargistas mundo afora, foram aniquilados em uma ação que durou pouco mais de cinco minutos em plena capital francesa à luz do dia no centro de Paris. O mundo ocidental ficou estarrecido, ainda mais quando a Europa tradicionalmente acolhe milhares de cidadãos oriundos de países que cultuam o islamismo. O terrorismo moderno pratica uma guerra que não  declarada por um Estado, mas por organizações, grupos menores armados e até por lobos solitários.

Homem com o rosto coberto ameaça dois japoneses em um vídeo publicado pelo grupo radical Estado Islâmico. O grupo militante, que controla faixas dos territórios da Síria e do Iraque, exigiu US$ 200 milhões do governo japonês para salvar as vidas de ambos. Os homens foram identificados no vídeo como Haruna Yukawa e Kenji Goto
Em 1989 na França, irrompeu-se uma revolução iluminista que influenciou o mundo e que se iconizou com o lema: Igualdade, Fraternidade e Liberdade. A revolução francesa inaugurou uma nova era. Países europeus, mas, também, outros fora da Europa, como os Estados Unidos da América do Norte, cultivam a liberdade de pensamento e de expressão como valor máximo da cidadania, como pressuposto da existência de um regime democrático. Na verdade, o regime democrático só prospera onde a liberdade é respeitada e a cidadania é plena. E, nas democracias modernas a liberdade de pensamento e de expressão é a arma das oposições para que, fora do poder, não vire cadaver com o corpo vivo. Por isso mesmo o papel dos derrotados numa eleição é fazer oposição. Quem ganha uma eleição manda e detém o poder e manda, quem perde faz oposição: fiscaliza e critica. Na verdade, a aniquilação da oposição só ocorre em tiranias  - que não aceitam nem toleram críticas.
Ocorre que, alguns grupos  radicais de diversas inspirações - neste caso particular, em Paris, fundamentalistas islâmicos - querem impor sua crença e sua cultura aos não muçulmanos - ao ocidente cristão e aos judeus em Israel e também querem alcançar os judeus que vivem espalhados pelo mundo residindo em qualquer país. Para tanto, não medem esforços para atingir o alvo  nem limitam seus métodos.  Basta lembrar o "11 de setembro" em Nova Iorque, o ataque ao metrô na Espanha, o assassinato de judeus na Argentina e agora, a ação no Charlie Habdo, em Paris. Vivenciamos uma perseguição generalizada de cristãos, principalmente no oriente árabe. Os cristãos são proibidos de cultuar sua religião, são expulsos de seus territórios, são condenados à morte por algum tirano  que ordena massacres ou condena à morte de algum recanto do mundo. Opositores, para os grupos fundamentalistas, devem ser literalmente eliminados. Defendem o extermínio de nações e mesmo de países e cidades como é o caso de Gerusalém em Israel, que é habitada majoritariamente por judeus mas, que é sistemática  ininterruptamente provocado por grupos terroristas identificados e também é alvo de atentado executado por grupos radicais islâmicos na vizinha palestina, principalmente os da faixa de Gaza.
Vê-se portanto que para os fundamentalistas islâmicos e também paro outros grupos radicais, eliminar o opositor através de assassinato individual ou em massa, através de ações terroristas planejadas com cidadãos simpatizantes do islamismo extremista, são recrutados, treinados e patrocinados por tiranos espalhados principalmente pelos países que professam o islamismo. Maomé, o Profeta do islamismo, não pode ser criticado, retratado ou ignorado - quem professa o islamismo não aceita. Por isso mesmo, as charges do Charlie Habdo ´foram intoleráveis, desencadeando ações de retaliação ao ponto da redação do jornal se tornar alvo a ser atingida e eliminada. Alguns grupos extremistas pregam a "guerra santa" que tem como objetivo eliminar cidadãos que professam outras crenças e que não cultuam Maomé e Alá.
Entre nós, no Brasil, é comum os vencedores exercerem o controle sobre os vencidos. Não é, cá no ocidente, uma prática muito comum eliminar o adversário político matando a tiros ou explodindo bombas. È mais comum aqui no Brasil os vencedores assassinarem a cidadania atravás de perseguição política capaz de calar a voz de quem se opõe aos vencedores, aqueles que detém o poder oriundo das urnas. Mas, as urnas nem sempre contam a verdade da vontade popular, uma vez que há muitas eleições contaminadas pela compra de votos ou por fraude e interferência indevida na apuração dos votos. Poucos tem coragem de abrir a boca para externar sua opinião crítica quando estão na oposição. A organização social, que forma cidadania rara e rala, não chega a incomodar os que detém o poder. Quem ganha a eleição na maioria das cidades brasileiras impõe-se através da cooptação ou da perseguição. Por imposição do silêncio aos vencidos que aceitam a dominação o medo de ser perseguido emudece os derrotados nas urnas ou então mamam nas tetas dos governos. Como a maioria dos cargos públicos são distribuídos como favor e compadrio e não por mérito e por competência, a maioria das famílias tem algum membro contratado por quem detêm o poder. Sim, contratado por que a seleção por concurso público é rara e não interessa aos poderosos por que o concursado pode vender apenas seu trabalho poupando sua alma.
Como nas democracias o papel da oposição é tão importante quanto o papel da situação, para tanto a oposição precisa ter voz. A liberdade de criticar e de fiscalizar é pressuposto básico da democracia. A resposta francesa ao atentado recente em Paris foi uma ação que reafirmou a Liberdade como lema de um povo altivo que preza a cidadania tanto quanto a própria vida. Em Paris os cidadãos não querm apenas estar vivo, apenas pão e circo. Querem a liberdade de expressão como ferramenta da cidadania. Quando, mais de três milhões de francesas saíram de casa em protesto e desafio, reunindo-se nas praças portando lápis e canetas, liderados por inúmeros mandatários de países europeus, principalmente, estes de mãos dadas a França reafirmou apoiada pelo mundo ocidental que os princípios da revolução francesa estão vivos e fortalecidos.
Enquanto grupos radicais eliminam pessoas matando o corpo físico com a intensão de eliminar traços culturais, como crença religiosa e vivência e prática democrática, na democracia brasileira mata-se a cidadania através da perseguição política e do cerceamento da liberdade de expressão quando a alma dos cidadãos é vendida junto a sua força de trabalho. Enquanto lá, se exterminam pessoas instantaneamente de modo cirúrgico dilacerando vísceras atravessadas por balas disparadas por fuzis e metralhadoras, aqui, o método usado é o envenenamento homeopático que visa matar a cidadania. Não vivemos portanto, uma democracia plena em nosso país. E, como não há democracia pela metade, no Brasil, enquanto a cidadania não for ressuscitada, a tirania terá o mesmo efeito - morte da cidadania - do mesmo modo que ocorre na maioria dos países islâmicos onde o Estado não é laico e portanto impera a teocracia,  onde reis e aiatolás inspirados por suas seitas e guiados por suas crenças, determinam tudo, inclusive o direito de viver de seus opositores e a hora de morrer. No ocidente democrático não estamos acostumados a esse tipo de barbárie. Temos tradição de liberdade de culto religioso sem que a pena de morte seja imposta a quem professa uma apenas por assim optar.


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