quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO

ESTRUME NA DEMOCRACIA
por alvaro

Eu lembro bem como foi,  o boato rolava na cidade toda. Você queria reformar sua casa, aumentar aquele puxadinho, pagar o carnê atrasado, dar uma guaribada na patroa ou fazer aquela viagem de férias. Sua grana estava curta. A poupança não existia. Raspou o taxo e, quase nada. Por isso você estava colado naquele comprador de votos, gritando o nome dele, brigando por ele e virando as costas para os que sempre estiveram ao seu lado. Eu sei que você é fraco.

Mesmo por que, em período de campanha eleitoral, sempre tem candidado comprando tudo. Só que você, não tendo tantos objetos de valor comercial para vender, tem seu voto, o da patrôa e os votos dos rebentos. Seu voto que você não usa para o devido fim. Então, como voto no Brasil é mercadoria comprada, por que não vendê-lo a quem oferece aquela graninha que vai lhe tirar do sufoco? Como suas necessidades passadas já foram supridas por aqueles que não lhe cobram retorno e você vive o "hoje-e-agora"...por que não vender barato seu voto? Logo agora que seu cofre está vazio como nunca esteve, tem gente querendo comprar uma mercadoria que você não sabe usar. Nada melhor que ir ao mercado das facilidades eleitorais, rifar seu nome e sua honra em nome de suas necessidades urgentes. Por que não vender junto com o voto sua alma penada pois, voto e independência são comercializados juntos? Quem vende o voto vende a alma, ou não é?

Os candidatos mercadores sabem que pouca gente resiste a promessas mirabolantes e grana em espécie. Só não sabem que do patrimônio do candidato comprador de votos, nada vai ser tirado. O dinheiro fácil vem de falcatruas, de desvios de verbas públicas, de mensalões e petrolões, de obras mal-acabadas ou não realizadas. Sabem alguns candidatos e recebem de bom gosto os eleitores que vendem votos que, quando mais zuada o candidato fizer, melhor. Que, quanto mais gastança, melhor. Que, quanto mais ostentação, melhor. Político esperto sabe que cabo eleitoral é o que não falta em períodos de campanha. Vereadores - (alguns), os "quase-vereadores", líderes comunitários de araque, chefes, chefinhos, chefetese chefões... todos aos balcões de negócios sujos.

Agora que você já vendeu barato, irresponsavelmente,  o que mais vale na democracia, você não vê mais aquele candidato sorridente, que entravam em sua casa e ia até a cozinha destampar sua panela quase vazia. Que estava em qualquer vitrine. Que discursava até em aniversário de boneca. Que pisava na lama. Que mandava cartões parabenizando você pelo aniversário que ainda viria, no futuro. Que deu emprego sazonal a sua filha. Que tanto elogiou sua esposa - cansada e mal-tratada. Abraçando-lhe fortemente, ele lhe seduzia, até você ficar sem fôlego. Cheirando seu suor ele se dizia povo. Você não encontra mais aquele candidato que nos finais de semana financiava sua farrinha com os amigos. Que prometia batizar seu filho que já era batizado. Que lhe conduzia para marcar - só marcar -  a cirurgia que você tem dificuldade de fazer pelo SUS fora das campanhas.

É isto aí. Virão os próximos pleitos e você vai cair, de novo, no conto do vigário. Afinal, você espera a hora certa para tomar algum trocado daquele cara que não vai exercer um mandato para o crescimento da comunidade e que  é sua presa fácil. Ele quer se eleger. Você tem o voto que não sabe usar para sua própria edificação moral e para benefícios comunitários. Você é fraco de espírito. Gosta de vantagens imediatas. Não aguenta ver grana fácil. Então, você não resiste.

Depois você descobre que, aquela promessa de calçar sua rua, de iluminar a esquina que a moçada no escuro usa para fumar um baseado, ainda está sem iluminação. Lembra que a saúde é de má qualidade - sua cirurgia só foi marcada e nunca será realizada. Lembra que a educação é de péssima qualidade e que segurança pública não existe - você tem medo de ir a rua, de transitar livremente. Você, então, descobre que elegeu um "camaleão"dentuço e mentiroso ou uma "anta-laranja" analfabeta ineficaz, que não sabe ler um relatório nem diferenciar uma fatura de uma nota fiscal. Que não sabe falar em público - é um zero à esquerda. Você descobre que financiou a eleição de um corrupto que com seu próprio dinheiro pago em impostos, comprou seu voto. Que do bolso dele nada tirou.

Eu sei que você não foi enganado. Você foi comprado. Por isso você não tem direito de reclamar. Você é um estrume na democracia. Vende o voto e fica sem voz. É difícil curar as doenças do caráter, por isso você não tem grandes perspectivas de cura. Na Suécia e na Dinamarca não deve ser assim o valor do voto, como no Brasil. Lá, o nível de qualidade dos serviços públicos é bem maior que aqui. Lá, o valor do voto é muitíssimo maior e do salário, também.  A consciência cívica é enormemente maior. Mas, em contraposição, a miséria é menor.Você - nós - é brasileiro e, não desiste nunca: de ser o otário que vende o voto e vive se humilhando para conseguir emprego que lhe custa a liberdade ou para fazer a feirinha no sábado ou até mesmo para marcar uma consulta no SUS que você é o patrocinador.

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