sexta-feira, 24 de abril de 2015

DOAÇÕES FRAUDULENTAS

23/04/2015
  Política & Cia - Ricardo Setti na Veja.com

CPI: executivo admite encontros com Vaccari e “doação” ao PT a pedido de Duque, então na Petrobras

Augusto Mendonça: Vaccari, o tesoureiro do PT, lhe telefonava para cobrar o pagamento das propinas (Foto: Agência Câmara)
Augusto Mendonça: Vaccari, o tesoureiro do PT, lhe telefonava para cobrar o pagamento das propinas (Foto: Agência Câmara)
Diretor da Toyo Setal disse ainda que propina na Diretoria de Serviços era generalizada. E que diretores da estatal se associaram ao clube do bilhão a partir de 2005
Por Gabriel Castro e Marcela Mattos, de Brasília, para VEJA.com
O executivo da Toyo Setal, Augusto Mendonça, um dos delatores do esquema do petrolão, falou por mais de sete horas nesta quinta-feira à CPI da Petrobras. Ele admitiu que fez doações eleitorais ao PT a pedido de Renato Duque, então diretor de serviços da Petrobras – e que, segundo o próprio Mendonça, também cobrava propina em contratos da estatal. Também afirmou ter se reunido com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, aproximadamente dez vezes.
O primeiro dos encontros, segundo o empresário, se deu em 2008, quando Vaccari ainda não ocupava a Secretaria de Finanças do partido. O executivo reconheceu que Duque lhe pediu que procurasse especificamente por Vaccari na sede do PT em São Paulo, para tratar de doações eleitorais.
Além de confirmar as doações feitas ao PT a pedido de Duque, o executivo afirmou que esses valores eram descontados da contabilidade da propina cobrada pelo então diretor. “Os pagamentos que eu identifiquei no meu depoimento e somam aproximadamente 24 milhões foram feitos a pedido de Renato Duque. Esses pagamentos eram vinculados a valores que eu deveria passara para ele”, afirmou o depoente.
Ele disse ainda que João Vaccari Neto lhe telefonava para cobrar os pagamentos quando havia atraso de doações prometidas. “Do lado da diretoria de Serviços foram feitos pagamentos, a maior parte deles no exterior, e foram feitas contribuições ao Partido dos Trabalhadores a pedido de Renato Duque”, afirmou o executivo.
“Duque nunca verbalizou ‘se você não contribuir vou te atrapalhar’, mas era uma coisa muito visível, muito evidente. A contribuição ali era no sentido de não ser atrapalhado”, afirmou o depoente, que fechou acordo de delação premiada com a Justiça. As informações confirmam a tese dos investigadores, de que parte da propina que circulava no esquema foi paga via contribuições eleitorais legais em 2010.
Ainda sobre a campanha daquele ano, Mendonça afirmou ter se encontrado com o ex-presidente Lula. “Naquela oportunidade, conversei com todos os candidatos à Presidência. Com a Dilma também estive algumas vezes”, disse o executivo. Ele ainda informou que se reuniu com o ex-ministro e mensaleiro condenado José Dirceu “algumas vezes” para tratar de assuntos do mercado offhore.
Augusto Mendonça também confirmou que sua companhia repassou 2,5 milhões de reais para a gráfica Atitude, ligada ao Sindicato dos Bancários de São Paulo. Oficialmente, o valor foi usado para a compra de um espaço publicitário em uma revista. Os investigadores da Lava Jato estão convencidos de que a Atitude era usada por Vaccari para receber propina de empresas como a Toyo Setal.
Diante das revelações sobre os encontros com Vaccari antes mesmo do petista se tornar tesoureiro do partido, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) sentenciou: “Em 2008 ele era agente de propina. Ele era assaltante da Petrobras. E foi nessa condição que o senhor falou com ele”. Vaccari sempre negou ter arrecadado recursos para o PT antes de assumir o cargo de tesoureiro, em 2010.
Cartel - Em seu depoimento, Augusto Mendonça também afirmou que o cartel de empreiteiras formado para combinar o resultado de licitações da Petrobras só se associou a diretores da estatal a partir de 2005, durante o governo Lula. O empresário disse que o chamado “clube do bilhão” surgiu na segunda metade dos anos 1990 – mas, naquela época, não havia conluio com diretores da estatal. Isso só ocorreria anos depois, já durante a administração petista.
“Lá pelo ano de 2005, 2006 o grupo foi ampliado e ganhou efetividade. Ou seja, tinha mais condição de funcionar a partir do instante em que houve uma combinação, com os diretores da Petrobras, das empresas que seriam convidadas para participar das licitações”, disse ele.
O depoente afirmou também que a cobrança de propina se dava de forma generalizada dentro das diretorias de Serviços, comandada por Renato Duque, e de Abastecimento, sob o comando de Paulo Roberto Costa. “Essas duas diretorias só conseguiram fazer isso porque atuavam em conjunto”, disse ele. Além dos dois diretores, ele afirmou que tratava de propina com Pedro Barusco, que era gerente sob o comando de Duque. “Essas três pessoas são as pessoas que eu sei que estavam envolvidas dentro da Petrobras”.
Embora afirme não saber de desvios em outras áreas da Petrobras, o depoente admitiu que o sistema de contratação deixava brechas. “Não tenho a menor dúvida de que, dentro desse relacionamento entre a Petrobras e as empresas fornecedoras, existem diversas oportunidades de corrupção”, disse ele.
O executivo também disse que começou a pagar propina depois de ser procurado pelo ex-deputado José Janene (PP-PR), por volta de 2007. “Ele se colocou como o responsável pela indicação do Paulo Roberto Costa e afirmou que, se nós não fizéssemos uma contribuição a ele ou ao Paulo Roberto em nome dele, nós seríamos duramente penalizados”, disse ele. Mendonça relatou que o então deputado, que morreu em setembro de 2010, indicou o doleiro Alberto Youssef como o responsável pelo recebimento da propina.

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