terça-feira, 3 de junho de 2014

A MAFIA E O BRASIL - PIZZOLATO

03/06/2014
 às 17:54 \ Política & Cia - Ricardo Setti na Veja


MAIS UMA DO MENSALÃO: O foragido Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil preso na Itália, pode ter sido elo da Máfia no Brasil

Il mensalão: Henrique Pizzolato fugiu do Brasil para escapar da prisão, mas acabou investigado na Itália (Foto: Ed Ferreira/Agência Estado)
Il mensalão: Henrique Pizzolato fugiu do Brasil para escapar da prisão, mas acabou investigado na Itália (Foto: Ed Ferreira/Agência Estado)
O Ministério Público investiga elo de Pizzolato com a máfia
Reportagem de Alana Rizzo publicada em edição impressa de VEJA
A participação do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato no mensalão é bem conhecida.
Ele permitiu o desvio de 74 milhões de reais dos cofres do banco para contas que abasteceram o esquema de compra de votos de congressistas e foi condenado a doze anos e sete meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal. Em vez de acatar a decisão da Justiça, fugiu para a Itália, onde terminou preso em 5 de fevereiro.
A origem italiana, que lhe garantiu a cidadania do país europeu, era a sua aposta para permanecer livre, sem ser deportado. Mas a estratégia de Pizzolato foi um péssimo negócio.
Ao ser preso na Itália, ele entrou na mira dos procuradores da Divisão Antimáfia do Ministério Público do país, que investigam sua participação em um esquema de corrupção internacional que envolve o ex-primeiro-mi­nistro Silvio Berlusconi, um jornalista ligado à máfia, Valter Lavitola, e o conglomerado empresarial Finmeccanica, no qual o governo italiano detém participação.
A suspeita dos investigadores é que Pizzolato seria a ponte para negócios da máfia italiana no Brasil.
Muito além do bunga-bunga: o jornalista Valter Lavitola é a peça-chave de um esquema de corrupção que passava pelo Brasil e envolveu o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, para quem ele também organizava festinhas particulares (Foto: Roberta Basile/AFP)
Muito além do bunga-bunga: o jornalista Valter Lavitola é a peça-chave de um esquema de corrupção que passava pelo Brasil e envolveu o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, para quem ele também organizava festinhas particulares (Foto: Roberta Basile/AFP)
VEJA teve acesso a escutas telefônicas das investigações de pagamento de propina e lavagem de dinheiro pela organização criminosa. Um dos celulares do mafioso que foram grampeados pela polícia era brasileiro, com o código de área 22, do interior do Rio de Janeiro. Lavitola, embora não fosse funcionário da Finmeccanica, era apresentado como representante da empresa no Brasil.
Em uma carta enviada a Berlusconi em 2011 para extorqui-lo (afinal, seus serviços não se limitaram à corrupção; o jornalista também organizava as famosas orgias “bunga-bunga” para Il Cavaliere, forma pela qual Berlusconi costuma ser chamado devido a uma antiga condecoração recebida), Lavitola reafirma sua relação com a empresa e pede ao amigo que o ajude a voltar a morar no Brasil.
A Finmeccanica, um conglomerado que atua em 22 países e fatura 16 bilhões de euros ao ano, tem contratos de 80 milhões de reais com o governo brasileiro nas áreas de defesa e comunicações. Também tem negócios em parceria com a Petrobras para afretamento de navios que somam mais de 200 milhões de reais.
A empresa foi acusada de pagar propina ao ex-ministro da Defesa Nelson Jobim para a venda de fragatas. A venda nunca foi concretizada, e Jobim sempre negou as acusações.
Segundo os investigadores, Lavitola usava o Brasil como uma espécie de “banco de compensação” para o pagamento de propinas na América Latina. O dinheiro que teria sido usado para corromper o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, suspeito de negociar 18 milhões de euros em troca de contratos no país, teria passado por aqui, circulando em contas bancárias em nome de laranjas e empresas de fachada.
(Foto: Tiziana Fabia/AFP)
Quando Pizzolato foi preso na Itália, a investigação abordou um esquema de corrupção internacional que envole até Silvio Berlusconi (Foto: Tiziana Fabia/AFP)
Por isso, a pedido do Tribunal de Nápoles no qual está centrada a investigação, a 8ª Vara Criminal da Justiça Federal do Rio de Janeiro determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal de alguns desses laranjas já identificados: Alexander Heródoto de Campos, Neire Gomes e Danielle Louzada. Alexander, citado nas escutas de Lavitola, foi interrogado em fevereiro deste ano.
As outras duas pessoas nem sequer foram localizadas pela Justiça. VEJA foi a dois endereços ligados ao grupo, em São Paulo. Ninguém nunca ouviu falar das empresas, tampouco de Lavitola.
Assim como Pizzolato, o jornalista está preso na Itália. Agora, os investigadores querem aprofundar a ligação entre os dois. O próximo passo é descobrir se as contas foram utilizadas para pagar propina também aqui, em troca de contratos para empresas italianas, como suspeitam os procuradores.
A audiência do processo de extradição de Pizzolato, que já foi ouvido mais de uma vez na prisão sobre suas relações com a máfia, está marcada para depois de amanhã, 5 de junho. O petista vai ter muito a contar sobre sua atuação menos conhecida, porém não menos criminosa.

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