segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

UM LOCAL SAGRADO - PONTO-CHIQUE

 CAMAMU e o PONTO-CHIQUE
            por Alvaro
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Vivi toda a minha infância e parte da adolescência, até os 17 anos, na minha terra natal – Camamu. Estudei, a partir do 5º ano de idade, no Colégio São Domingos Sávio de D. Clotildes e D. Ceci. Depois, fui fazer o que era chamado “curso ginasial” durante quatro anos no Colégio Pirajá da Silva.  Aos 17 anos fui morar em Salvador na casa de meus tios Dinorá e Zé Pinto passando a cursar o que se chamava “científico” no colégio Central. Passei nos vestibulares para cursar medicina na Universidade Federal da Bahia – a que escolhi – mas também  na Escola Baiana de Medicina. Retornei a Camamu em 2002, no início do ano. A convite, assumi a Secretaria Municipal de Saúde de 2002 a 2006.

Voltemos a Camamu, que no momento é onde devo focar. Camamu era uma Cidade com a típica vida interiorana – lenta, pacata, carente de infraestrutura. Á época, na minha infância era comum, homens tomarem banho no final da tarde nas fontes naturais de agua – principalmente “as Caretas” - pois a “Fontinha” era mais usada para recolher água de beber ( lembram de Cavahaque). Muita gente nesse tempo ganhava a vida carregando água das fontes para as residências.  

Há trinta anos passados o point em Camamu era o Ponto-Chique. O ponto chique era o local de empinar pipas, de descer escorregando em fragmentos de madeira ou simplesmente de reuniões de jovens, principalmente. A casa de meu avô, Dr. Alvaro Ernesto e o terreno de tia Elza, sua irmã, eram separados pela rua que alí está. O terreno de tia Elza era cercado por um muro marron, bem delimitado. A área do terreno ficava entre a casa de Geraldo Pereira e o poste que hoje tem um refletor – alí terminava o muro e tinha do lado de fora do terreno dois postes pretos de ferro pertencente aos Correios e Telégrafos. Dalí em diante era terreno público. Nós da família Ernesto, nunca nos ousamos em anexar um palmo sequer do patrimônio público. A área era sagrada para que toda a população da cidade  desfrutasse livremente. Muitos namoros começaram e muitos acabaram alí no Ponto-Chique. Lembro-me que um casal de parentes, D.Marinalva e Sr. Alborino tinha o hábito de passear a tardinha de maos dadas ou abraçados de sua residencia na Rua Direita até o Ponto-Chique e lá ficvam uma duas horas. A família de Tio Milton Coutinho - Roberto, Getúlio,  Carolina e Zé Eduardo juntamente comigo e meus irmãos fazíamos dali um local para o lazer e para o descanso e até reflexão. Luiz de Djanira, Otaviano, Carlito de Amenália, Maria Assunção, Barbinha, os filhos de João Soldado e os irmãos de Bolachão vivíamos todos por alí uma boa parte dos nossos dias. Bartira, Charles, Lindoia...

 Hoje, para mim, o Ponto-Chique é um local sagrado.

Quando retornei a Camamu em 2002, o Prefeito Zequinha da Mata me convidou para assumir a Secretaria Municipal de Saúde. O mesmo Zequinha que junto com Célio Querino, Augusto Souza e outros amigos vivemos nossa infância atrelado ao Ponto Chique. Os filhos de Sr. Manoel Vasconcelos, de Sr. Milton de Zuca e de Sr. Capitãozinho e D. Dete frequentavam o Ponto-Chique. Em dias de festa na Igreja de Senhor do Bomfim na Cidade Baixa, nós os moradores da Cidade Alta corríamos ao Ponto-Chique para, daquele ponto privilegiado, observarmos o movimento. O Ponto-Chique é, portanto, um referencial histórico e cultural da cidade de Camamu e seus habitantes. Que as fontes de água não tivessem sido preservadas, paciência. Mas o Ponto-Chique, não! Nós, os Ernestos, já perdemos mais de 600 hectares de terra no Tiriri e não reclamamos de ninguem. Eu estou fazendo este apelo veemente para preservar o Ponto-Chique como área pública por que sou Camamuense e amo minha cidade. Não quero para meu uso particular.

A Prefeitura de Camamu tinha um projeto de construir alí um mirante e no local onde hoje é minha residência e que pertenceu aos meus pais, avós e bisavós, seria um Centro de Cultura. Com o meu retorno a Camamu, o Prefeito à época retrocedeu da desapropriação, por que um dos donos se apossou de pleno direito da sua propriedade, do nosso imóvel e me deu cópia do projeto. Como Camamuense damos valor a nossa terra. Veja Chico Vasconcelos com o projeto de restauração da Igreja de Nossa Senhora da Assunção – somos todos agradecidos a Chico.

O Ponto-Chique, do modo como está demarcado por uma cerca,  englobando área particular e área pública não é, todo, propriedade particular. É, e sempre será da Cidade de Camamu. Quem viver verá.

*OBS: Este Blog dará espaço para que o "proprietário" se manifeste e apresente seus argumentos e seus documentos.

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