Qualidade X Quantidade
nos cursos
universitários
Por, Alvaro
Há pouco mais de dez anos os
cursinhos (de Pré-vestibular) andavam cheios. Conto o que vi, eu estava lá como
professor de Biologia. Nesses tempos que
já se foram, para ingressar na universidade frequentando um dos cursos
universitários, os alunos se preparavam durante todo o ano para fazer as provas
de seleção com o rigor merecido e recomendado para quem quer ser um médico, um engenheiro, um professor, um juiz. Com material didático denso e “professores
show”, mas que ensinavam com uma didática refinada e conteúdo detalhado enfatizando o essencial, os cursinhos eram um mal
necessário. Proporcionavam aos alunos um mínimo de conhecimentos para um
pretendente a vaga em Faculdades Públicas ou Privadas. De repente, os cursinhos
preparatórios para vestibulares viram suas salas esvaziadas - os alunos sumiram - enquanto as salas nas faculdades ficavam abarrotadas de pretendentes a profissionais de nível universitário.
Para os cursinhos a demanda caiu assustadoramente por que houve um desvio, um atalho. E, aquele aluno que
direcionava seu tempo e sua atenção para aprender um mínimo necessário para ser
universitário agora, não procura mais os
cursinhos preparatórios, por que o número de vagas nas diversas faculdades
autorizadas parece ser maior que o de alunos pretendentes. As faculdades
proliferaram sem nenhum critério. Nas
salas de aula pode ter gente que não sabe escrever um bilhete ou fazer uma
conta de adição. Pode ter gente que não sabe se expressar nem fazer um
requerimento ou uma solicitação escrita. Que não sabe pesquisar uma relação
bibliográfica. Que não sabe escrever um ditado sem interromper o professor a cada sílaba. Os professores sabem do que eu
falando.
As faculdades com
suas licenças de funcionamento provavelmente facilitadas, não garantem que selecionam os alunos.
Escancaram suas portas e porteiras.
Para os autorizadores dos cursos universitários – MEC - a quantidade é o único parâmetro que conta para o ingresso nos diversos cursos.
Os donos das fabriquetas de formados também comemoram, pois suas gavetas de
dinheiro se abarrotam. Qualidade é um item que não conta. Nem para entrar nem
para frequentar, quanto mais para sair. Os alunos têm perfil de curso técnico,
sem aquilo que deve ser um universitário – questionador, pesquisador, envolvido
com a comunidade, em busca permanente de aperfeiçoamento. Um técnico é diferente
de profissional universitário. Pelo menos deveria ser. E, um professor
universitário não pode ser qualquer um, tem que estar preparado para tal.
Para os Governos de todas as
esferas exibir os números é o que
importa. Mostrar que depois de determinada administração tanto por cento dos
alunos de uma determinada cidade se tornaram universitários ou concluíram algum
curso de graduação. E enquanto nos números dos levantamentos estatísticos se
mede a quantidade n a prática, em relação ao conhecimento a realidade é outra.
Paga-se a mensalidade e garante-se o título – Universitário. Não se fazem mais universitários como
antigamente. Agora, pense em um
engenheiro responsável pela construção de um viaduto onde você passa por sobre
ele todos os dias. Ou, um médico “padrão cubano”, desses que estão sendo importados
sem o selo de qualidade para atender os pacientes do SUS. Que dá medo dá.
Sem estar
defendendo a primazia dos cursinhos, nem a volta ao passado, espero que, pelo menos, a seleção seja
mais rigorosa. Ou, que no mínimo, haja seleção. Os números vão aumentar em
relação aos que ingressam nas universidades, os que fazem faculdade, e saem com um canudo vazio ostentando a mudança de status. Mas, o
mercado de trabalho vai contestar as estatísticas dos que ingressam e concluem
os cursos universitários em relação a qualidade do aprendizado, em relação ao conhecimento adquirido. Concluem, mas não estão preparados para trabalhar na profissão - uma boa parte deles. Passaram mas, não aprenderam o suficiente para exercer um ofício dando segurança a quem depende dos seus serviços profissionais. Para os responsáveis pela farsa, nesse nosso Brasil de mentirinha, da panfletagem oficial, nunca qualidade, só quantidade, só números
– este parece ser o lema. Lula sabe do que eu estou falando.
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