FRAGMENTOS, COLHIDOS E TRABALHADOS
Choramos ao nascer.
Nesse intervalo de tempo
perdemos muito tempo com coisas vãs.
Na ânsia de ensinar, mostrar saber,
deixamos de aprender muitas coisas
importantes.
Trafegamos muito no terreno da
ambição,
da cobiça, da inveja, do egoísmo.
Gostamos mesmo de estar no palco
De repente, nos damos conta
que somos terreno árido, não arado,
não irrigado.
A polidez se apossa de nós por muito
pouco tempo.
Lampejos, apenas. Faíscas, quando muito.
Somos tomados pelo espírito fraterno
poucas vezes.
Por isso:
E preciso constatar que a brevidade
da vida
é espantosa e os fenômenos que a
envolvem são admiráveis.
Sabemos muito do mundo que nos cerca
– sobre moedas, coptas bancárias, metragens de terrenos, modelos de carros,
marcas de vinho.
Não vemos tantos caminhos mais simples...
Mas, sabemos muito pouco, pouquíssimo
mesmo sobre nós mesmos.
Não temos tempo de conviver conosco
Não entramos dentro de nós apenas por
pressa
Somos um oceano desconhecido, não
sondado.
Nossa cultura não nos leva a buscar
Ou qualquer utopia, qualquer.
Para ser um PHD em orgulho basta
estar vivo um dia,
Mas, para ser um especialista em
humildade
é necessária uma vida inteira de
aprendizado
é necessários sofrer, sentir saudade, morrer.
O ideal é que todo ser humano se
coloque
como uma criança curiosa e pura.
Há pais que jamais admitem ser
criticados por seus filhos.
Usam o “cale a boca, menino”.
Há professores que,
ao serem questionados ou criticados
por seus alunos dizem:
você não entende nada de nada, me
respeite.
A maioria,
silencia a voz de outros, inibe a
criatividade, poda a arte da observação
e decepa a capacidade de pensar.
Há executivos que não podem ser
interrogados por subalternos por sentirem sua autoridade diminuída, afrontada.
Sufocam mentes, asfixiam a liberdade.
Querem o sucesso da empresa, mas
falham em incentivar mentes livres e criativas. Não sabem que os grandes
líderes tornam os pequenos grandes.
Quem usa o poder para dominar e ofuscar
os outros, apenas,
e não para libertá-los não é digno de
ter o poder.
Quem usa seu conhecimento para diminuir
os outros,
Devemos respeitar até o que
aparentemente é incoerente e irracional – às vezes a gente é que não está
entendendo.
Um mendigo e o presidente de uma
nação, um trabalhador braçal que vive em pleno anonimato e um ator de Hollwood,
que vive em pleno estrelato, têm a mesma sofisticação intelectual e a mesma
dignidade humana.
Não é a toa que os grandes artistas
ou foram considerados doentes mentais ou pessoas excêntricas, marginais, esdrúxulas.
Admirar os outros pode ser útil, mas,
supervalorizá-lo é inútil, ou, pior,
pode ser destrutivo, pois assim diminui, e faz
perder a própria identidade.
Supervalorizar o outro também faz mal
ao outro: ofusca a realidade, superinfla o ego
Mais vale um adversário que às vezes nos
critica
do que um aliado que sempre nos elogia.
Não podemos ser gaiolas que só
aprisionam nossos amigos
nem correntes que não libertam nossos
filhos.
É preciso coragem para ser solto,
livre, desapegado
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