terça-feira, 6 de maio de 2014

Dilma Partiu para a Brigra

Dificilmente a presidente Dilma Rousseff e seus marqueteiros conseguirão convencer que o pacote de bondades anunciado ontem no pronunciamento do Dia do Trabalho não teve um viés puramente eleitoral. Aliás, o pronunciamento todo teve o foco nas urnas de outubro, com recados para adversários e principalmente para os amigos.
Na parte objetiva das medidas anunciadas, o foco foram clientelas que poderiam desgarrar ou já estavam desgarrando. O aumento de 10% no Bolsa Família é a barretada para “os mais pobres”, assim explicitamente citados no discurso. O reajuste do Imposto de Renda bate diretamente da “classe média” ( também lembrada nominalmente). A fala sobre a preservação do poder de compra do salário mínimo tem endereço dos inquietos sindicatos e suas centrais.
Pode-se até argumentar que as medidas são justas, porém há uma questão de timing muito bem calculada. O que será que foi improvisada depois da confirmação, por quatro institutos de pesquisa diferentes (DataFolha, Ibope, Vox Populi e MDA) da queda da intenção de votos na presidente e na avaliação de seu governo?
Vem ainda – e principalmente – depois do pequeno terremoto que passou a causar na base aliada, inclusive no PT, com as ameaças de debandada de partidos da aliança e do recrudescimento do movimento “Volta. Lula”.
Não havia indícios sequer de que o Bolsa Família estivesse para ser aumentado nem ao menos movimentos para isso. A questão da correção do IR é tão velha quanto a Sé de Braga, o governo sempre estica o caso até o limite – agora mesmo há no Congresso, já velha de alguns meses, uma proposta neste sentido, boicotada pelo PT e parceiros por orientação do Ministério da Fazenda. Quanto ao SM, a regra atual de correção só se encerra ano que vem: há, portanto, tempo demais para debater uma nova.
As duas medidas significarão aumento de despesas e redução de receitas, num momento em que o governo faz do coração tripas para convencer o universo dos menos crédulos (ou “pessimistas”) de que agora vai levar a sério suas promessas de superávit primário e alguma austeridade fiscal. Vem um dia depois de se constatar que a arrecadação tributária do primeiro trimestre ficou abaixo das previsões oficiais e de o governo, surpreendentemente, anunciou novo aumento (o segundo em menos de dois meses) de impostos para as bebidas frias – cervejas, refrigerantes, isotônicos.
A dúvida – que só uma próxima pesquisa, dentro de uns 15 dias poderá começar a desvendar – é saber se os objetivos visados por Dilma, de segurar eleitores e apoiadores perdidos ou ameaçados de perder – serão atingidos. Parece óbvio que as tais “elites”, classificação oficial e de Lula para a oposição e os críticos, não receberá bens as medidas. O demonizado “mercado” pode vir quente hoje. Os esforços de alguns governistas e parceiros de Dilma e do Banco Central de recobrar a confiança da condução da política econômico certamente sofrerá algum baque. A perda poderá ser compensa com a fixação da fidelidade “dos mais pobres e da classe média”.
Dilma fez também críticas duras à oposição, o que é natural. Prometeu combate à inflação sem tréguas, prometeu que os malfeitos na Petrobrás serão apurados e punidos, “duela a quien duela” como diria Fernando Collor. Foi um discurso em que procurou abordar todos os temas que estão na ordem do dia e marcar posições, assim como um roteiro para os aliados para os debates eleitorais.
Mas foi também – e com grande ênfase – um discurso para o público interno, pelo tom que ela e seus preparadores de vídeo tentaram imprimir. Foi a fala de uma candidata que quer mostrar segurança e não admite contestações. Aliás, Dilma aproveitou a semana para tentar cravar uma cruz de madeira no coração do maior demônio que a assombra – o insepulto “Volta, Lula”.
Na conversa com os jornalistas esportivos, já referida no comentário de ontem, sutilmente ela fez questão de lembrar a lealdade que tem por Lula e a lealdade que Lula tem por ela. Em entrevista a rádios baianas foi mais longe ao dizer que vai ser candidata, com ou sem apoio da base aliada. É uma bravata, haja vista o esforço – e que esforço – que está sendo feito para segurar os partidos parceiros na campanha, em nome do tempo no horário eleitoral no rádio e na televisão. Porém, serviu como um recado de que ela não está disposta a se deixar imolar facilmente pelo fogo amigo.
Amanhã ela espera a sagração e a consagração no Encontro Nacional em São Paulo. Dilma partiu diretamente para a briga. E não apenas com os adversários.

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