segunda-feira, 5 de maio de 2014

GROSSERIA?

Notas da coluna de Carlos Brickmann publicada em vários jornais neste domingo
Carlos Brickmann
O deputado federal Paulinho da Força, do Solidariedade, foi grosseiro ao se referir à presidente Dilma Rousseff.
Não precisava; não devia (e avançar na tequila num ato político é claramente inconveniente). Correu o risco de abafar a mais importante constatação dos festejos de Primeiro de Maio: a de que acabou a época em que acusações a líderes petistas não aderiam a eles.
Dilma, ausente, foi vaiada; vaiados foram, presentes, os ministros Gilberto Carvalho [que já havia sido vaiado em evento em território teoricamente "amigo", o Sindicato dos Bancários do Rio) e Ricardo Berzoini, o prefeito paulistano Fernando Haddad (ficou mui-to bra-vo!), o candidato ao governo paulista, Alexandre Padilha. Não foram vaiados só na festa da Força Sindical, que montou um palanque oposicionista; foram vaiados também - e alvejados por latas e garrafas - na festa da CUT, o braço sindical do PT.
É importante lembrar, também, que a CUT, de longe a maior central sindical do país, reuniu muito menos gente em sua festa de Primeiro de Maio do que a Força Sindical.
A Força reuniu mais de cem mil pessoas (e anunciou um milhão e meio). A CUT reuniu algo como três mil (e anunciou 80 mil). Até os números inflados por ambas as centrais mostram a diferença de público entre suas festas.
Pior ainda, a CUT festejava também o discurso como eu sou boazinha da presidente Dilma Rousseff em rede nacional de TV, com farta distribuição daquilo que o pessoal do Palácio chamou de "bondades". Não adiantou e as vaias dominaram a comemoração. A explicação oficial é que "houve infiltração".
OK. E tudo indica que a tal infiltração cada vez será mais visível e barulhenta.
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Graça Foster, Alexandre Padilha e André Vargas: todos atingidos pela Operação Lava-Jato. É a PF criando problemas para o governo federal (Fotos: Agência Petrobras; Agência Brasil; Agência Câmara)
Coisa estranha
Certo, Polícia Federal é órgão de Estado, não de governo. É mas não é. E por que, sendo oficialmente subordinada ao ministro da Justiça, criou com a Operação Lava-Jato tantos problemas para o governo federal?
Atingiu a Petrobras (e, com isso, não apenas Graça Foster, um dos mais fiéis braços da presidente Dilma; atingiu a própria presidente Dilma); atingiu empreiteiras imensas, bem nas vésperas da eleição presidencial, na hora mais propícia para ordenhá-las; atingiu candidatos do bolso do colete do ex-presidente Lula, como o até há pouco ministro da Saúde, Alexandre Padilha, candidato-poste ao Governo paulista. Acertou André Vargas, petista roxo, capaz até da besteira de fazer desfeita ao presidente do Supremo, que se atreveu a votar pela condenação dos mensaleiros.
Durante um determinado período, dizia-se que a Polícia Federal tinha uma ala ligada ao ex-ministro José Serra, do PSDB.
Mas Serra saiu do Ministério há 12 anos.
E?
Siga os salários
pf2Quem nada tem a perder é perigoso, ensina Goethe. A Polícia Federal se queixa de estar há sete anos sem aumento. Queixa-se de ingerência política, de transferência a outros setores de suas atribuições constitucionais, de más condições de trabalho.
Um delegado da Polícia Federal começa com R$ 14 mil. E o promotor, que fez o mesmo curso jurídico e também prestou concurso? O Ministério Público do Rio está contratando promotores substitutos por R$ 22.800.
Talvez por isso a Polícia Federal ameace fazer greve na época da Copa.
Ou, em vez de cruzar os braços, esteja fazendo o que é pior para o governo: trabalhar.

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