Por água, São Paulo entra em conflito com Rio e busca integração com Paraná
Sob pressão de crise hídrica, governo paulista transforma rio Paraíba do Sul em alvo de disputa com governo fluminense. No Vale do Ribeira, prepara-se banco de dados compartilhado
Em
meio à crise de abastecimento de água, o Estado de São Paulo criou o
primeiro conflito hídrico do País com o Rio de Janeiro em torno do rio
Paraíba do Sul e busca integração com o Paraná na gestão da bacia do
Ribeira. São as alternativas possíveis para escapar da dependência do
sistema Cantareira, que nesta terça-feira (25) marca apenas 14,3% de
volume armazenado e corre o risco de secar até o mês de agosto.
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A decisão contraria também resposta ao inquérito civil aberto em 2010 pelo Ministério Público Federal em Campos para apurar possíveis danos ao uso do rio. Em nota técnica de setembro de 2011, a Procuradoria Geral do Estado de São Paulo informou que não havia "projetos em níveis de detalhe suficientes" para uso do rio.
O Paraíba do Sul nasce em São Paulo, na Serra da Bocaina, e corta cidades paulistas, mineiras e fluminenses, até desaguar no oceano Atlântico, em São João da Barra, no Rio de Janeiro.
Aproveitamento
Atualmente, são destinados para a região metropolitana do Rio 119 m³/s de água. Sobram 70 m³/s para abastecimento de outros municípios que aproveitam a água até a foz. Esta região já sofre em tempos de estiagem, diz o pesquisador Paulo Carneiro, da Coppe/UFRJ e coordenador do plano estadual de recursos hídricos do Rio de Janeiro.
Com o volume menor do rio, a água do mar entra no sistema, comprometendo a qualidade da água e prejudicando quem, por exemplo, depende de irrigação. "Por menor que seja o volume de água utilizado por São Paulo vai fazer diferença, sim, e para todo o Estado do Rio de Janeiro", afirma Carneiro.
O planejamento hídrico do Rio leva em conta que, sem a interferência paulista, o Paraíba do Sul seria capaz de abastecer a região metropolitana até 2030, quando espera-se uma estabilização do crescimento populacional e, consequentemente, do consumo hídrico. A aposta também é que até lá, as indústrias adotem processos mais econômicos. "Retirar uma vazão de 5 m³/s significa antecipar um colapso", diz Carneiro.
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Sem alternativa
A principal fonte de água para a região metropolitana do Rio de Janeiro hoje é o rio Paraíba do Sul e não há outro manancial capaz de reforçar o abastecimento. No entanto, para São Paulo, o rio é o que oferece solução no mais curto prazo. A estimativa é que, se aprovada, a obra de transposição do rio dure 14 meses.
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Veja imagens do sistema Cantareira:
A iniciativa do governo de São Paulo de recorrer ao governo federal para
usar 5 m³/s da vazão do rio Paraíba do Sul surpreendeu o Comitê de
Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap). A
entidade aguardava a realização de discussões sobre projetos divergentes
do governo paulista e do comitê, apresentados no final do ano passado,
diz o presidente do comitê, Danilo Vieira Júnior, também
secretário-adjunto de Meio Ambiente de Minas Gerais.
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A decisão contraria também resposta ao inquérito civil aberto em 2010 pelo Ministério Público Federal em Campos para apurar possíveis danos ao uso do rio. Em nota técnica de setembro de 2011, a Procuradoria Geral do Estado de São Paulo informou que não havia "projetos em níveis de detalhe suficientes" para uso do rio.
O Paraíba do Sul nasce em São Paulo, na Serra da Bocaina, e corta cidades paulistas, mineiras e fluminenses, até desaguar no oceano Atlântico, em São João da Barra, no Rio de Janeiro.
Aproveitamento
Atualmente, são destinados para a região metropolitana do Rio 119 m³/s de água. Sobram 70 m³/s para abastecimento de outros municípios que aproveitam a água até a foz. Esta região já sofre em tempos de estiagem, diz o pesquisador Paulo Carneiro, da Coppe/UFRJ e coordenador do plano estadual de recursos hídricos do Rio de Janeiro.
Com o volume menor do rio, a água do mar entra no sistema, comprometendo a qualidade da água e prejudicando quem, por exemplo, depende de irrigação. "Por menor que seja o volume de água utilizado por São Paulo vai fazer diferença, sim, e para todo o Estado do Rio de Janeiro", afirma Carneiro.
O planejamento hídrico do Rio leva em conta que, sem a interferência paulista, o Paraíba do Sul seria capaz de abastecer a região metropolitana até 2030, quando espera-se uma estabilização do crescimento populacional e, consequentemente, do consumo hídrico. A aposta também é que até lá, as indústrias adotem processos mais econômicos. "Retirar uma vazão de 5 m³/s significa antecipar um colapso", diz Carneiro.
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A principal fonte de água para a região metropolitana do Rio de Janeiro hoje é o rio Paraíba do Sul e não há outro manancial capaz de reforçar o abastecimento. No entanto, para São Paulo, o rio é o que oferece solução no mais curto prazo. A estimativa é que, se aprovada, a obra de transposição do rio dure 14 meses.
Segundo o governo paulista, um túnel de 15 km
seria construído para ligar a represa Atibainha, em Nazaré Paulista -
que compõe o sistema Cantareira - e a represa Jaguari, em Igaratá, na
bacia do Paraíba do Sul. A proposta paulista é bombear água para o
Cantareira em tempos de seca, mas também emitir água para Jaguari quando
for necessário.
A medida provocou intensa troca de
farpas entre os governadores Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Sérgio Cabral
(PMDB-RJ). Cabral disse que não vai permitir que se retire a água que
abastece a população fluminense. Alckmin rebateu dizendo que o rio
Jaguari pertence ao Vale do Paraíba e aos paulistas, assim como a baía
de Guanabara é dos cariocas.
Paraná
Enquanto
há briga com o Rio, em relação ao Paraná o processo é de integração
entre os comitês estaduais responsáveis pela bacia do Ribeira. Em
reunião na semana passada, traçou-se a meta de criar um comitê federal
com banco de dados integrado entre os Estados com o objetivo de
monitorar a preservação da bacia. "Há necessidade de se preservar esta
bacia porque lá no futuro nossos filhos e netos podem precisar dela",
diz Marisa Capriglione, gerente da unidade de projetos especiais da
Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar).
O plano
paulista para a região, apontada como principal fonte alternativa de
água para o Estado, só deve começar a operar em 2018 e não afeta o
abastecimento paranaense. O sistema produtor São Lourenço aumentará em
4,7 m³/s a vazão destinada a Grande São Paulo. A estimativa do governo é
que 1,5 milhão de moradores devem ser atendidos, incluindo condomínios
residenciais como Alphaville, Tamboré e Granja Viana.
A
maior parte da água que abastece a região metropolitana de Curitiba hoje
vem da bacia do Alto Iguaçu, diz Olga Polatti, gerente do Comitê das
Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira.
Para
reforçar o abastecimento na parte norte da região, são captados
atualmente 0,09 m³/s das águas do rio Capivari, que compõe a bacia do
Ribeira. Até 2020, essa vazão deve começar a ser ampliada e deve chegar a
0,6m³/s até 2040, segundo a Sanepar. Há também projeções para uso de
0,04 m³/s do rio Três Barras no abastecimento da cidade de Cerro Azul e,
a depender do crescimento industrial de Adrianópolis, deve-se captar
mais 0,04 m³/s de outro afluente do Ribeira.
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