terça-feira, 25 de março de 2014

O Giro da Noticia

Por água, São Paulo entra em conflito com Rio e busca integração com Paraná

Sob pressão de crise hídrica, governo paulista transforma rio Paraíba do Sul em alvo de disputa com governo fluminense. No Vale do Ribeira, prepara-se banco de dados compartilhado

Em meio à crise de abastecimento de água, o Estado de São Paulo criou o primeiro conflito hídrico do País com o Rio de Janeiro em torno do rio Paraíba do Sul e busca integração com o Paraná na gestão da bacia do Ribeira. São as alternativas possíveis para escapar da dependência do sistema Cantareira, que nesta terça-feira (25) marca apenas 14,3% de volume armazenado e corre o risco de secar até o mês de agosto.
Agência Nacional de Águas estuda nova fonte de captação para sistema Cantareira
Veja imagens do sistema Cantareira:
Sistema Cantareira tem o menor nível em duas décadas. Foto: Patricia Stavis
A iniciativa do governo de São Paulo de recorrer ao governo federal para usar 5 m³/s da vazão do rio Paraíba do Sul surpreendeu o Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap). A entidade aguardava a realização de discussões sobre projetos divergentes do governo paulista e do comitê, apresentados no final do ano passado, diz o presidente do comitê, Danilo Vieira Júnior, também secretário-adjunto de Meio Ambiente de Minas Gerais.
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A decisão contraria também resposta ao inquérito civil aberto em 2010 pelo Ministério Público Federal em Campos para apurar possíveis danos ao uso do rio. Em nota técnica de setembro de 2011, a Procuradoria Geral do Estado de São Paulo informou que não havia "projetos em níveis de detalhe suficientes" para uso do rio.
O Paraíba do Sul nasce em São Paulo, na Serra da Bocaina, e corta cidades paulistas, mineiras e fluminenses, até desaguar no oceano Atlântico, em São João da Barra, no Rio de Janeiro.
Aproveitamento
Atualmente, são destinados para a região metropolitana do Rio 119 m³/s de água. Sobram 70 m³/s para abastecimento de outros municípios que aproveitam a água até a foz. Esta região já sofre em tempos de estiagem, diz o pesquisador Paulo Carneiro, da Coppe/UFRJ e coordenador do plano estadual de recursos hídricos do Rio de Janeiro.
Com o volume menor do rio, a água do mar entra no sistema, comprometendo a qualidade da água e prejudicando quem, por exemplo, depende de irrigação. "Por menor que seja o volume de água utilizado por São Paulo vai fazer diferença, sim, e para todo o Estado do Rio de Janeiro", afirma Carneiro.
O planejamento hídrico do Rio leva em conta que, sem a interferência paulista, o Paraíba do Sul seria capaz de abastecer a região metropolitana até 2030, quando espera-se uma estabilização do crescimento populacional e, consequentemente, do consumo hídrico. A aposta também é que até lá, as indústrias adotem processos mais econômicos. "Retirar uma vazão de 5 m³/s significa antecipar um colapso", diz Carneiro.
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Sem alternativa
A principal fonte de água para a região metropolitana do Rio de Janeiro hoje é o rio Paraíba do Sul e não há outro manancial capaz de reforçar o abastecimento. No entanto, para São Paulo, o rio é o que oferece solução no mais curto prazo. A estimativa é que, se aprovada, a obra de transposição do rio dure 14 meses.
Divulgação
Governador Geraldo Alckmin anuncia projeto para transposição do Paraíba do Sul
Segundo o governo paulista, um túnel de 15 km seria construído para ligar a represa Atibainha, em Nazaré Paulista - que compõe o sistema Cantareira - e a represa Jaguari, em Igaratá, na bacia do Paraíba do Sul. A proposta paulista é bombear água para o Cantareira em tempos de seca, mas também emitir água para Jaguari quando for necessário. 
A medida provocou intensa troca de farpas entre os governadores Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Cabral disse que não vai permitir que se retire a água que abastece a população fluminense. Alckmin rebateu dizendo que o rio Jaguari pertence ao Vale do Paraíba e aos paulistas, assim como a baía de Guanabara é dos cariocas. 
Paraná
Enquanto há briga com o Rio, em relação ao Paraná o processo é de integração entre os comitês estaduais responsáveis pela bacia do Ribeira. Em reunião na semana passada, traçou-se a meta de criar um comitê federal com banco de dados integrado entre os Estados com o objetivo de monitorar a preservação da bacia. "Há necessidade de se preservar esta bacia porque lá no futuro nossos filhos e netos podem precisar dela", diz Marisa Capriglione, gerente da unidade de projetos especiais da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar).
O plano paulista para a região, apontada como principal fonte alternativa de água para o Estado, só deve começar a operar em 2018 e não afeta o abastecimento paranaense. O sistema produtor São Lourenço aumentará em 4,7 m³/s a vazão destinada a Grande São Paulo. A estimativa do governo é que 1,5 milhão de moradores devem ser atendidos, incluindo condomínios residenciais como Alphaville, Tamboré e Granja Viana.
A maior parte da água que abastece a região metropolitana de Curitiba hoje vem da bacia do Alto Iguaçu, diz Olga Polatti, gerente do Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira. 
Para reforçar o abastecimento na parte norte da região, são captados atualmente 0,09 m³/s das águas do rio Capivari, que compõe a bacia do Ribeira. Até 2020, essa vazão deve começar a ser ampliada e deve chegar a 0,6m³/s até 2040, segundo a Sanepar. Há também projeções para uso de 0,04 m³/s do rio Três Barras no abastecimento da cidade de Cerro Azul e, a depender do crescimento industrial de Adrianópolis, deve-se captar mais 0,04 m³/s de outro afluente do Ribeira. 
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TCU deve concluir em abril análise da compra de refinaria nos EUA pela Petrobras

Atraso na investigação, que deveria ter sido concluída em dezembro passado, é atribuído à demora da estatal em entregar documentos sobre negócio com indícios de superfaturamento

O Tribunal de Contas da União (TCU) pretende concluir no próximo mês procedimento investigatório relacionado à compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, adquirida pela Petrobras em 2006 e com indícios de superfaturamento.
A Petrobras comprou 50% da refinaria no Texas por US$ 360 milhões, mas, em seguida, amargou uma batalha judicial com o parceiro no projeto, a Astra, e acabou desembolsando um total de US$ 1,2 bilhão.
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Operação da PF: Ex-diretor da Petrobras será interrogado
Valter Ribeiro
TCU apura irregularidades na compra de refinaria nos EUA pela Petrobras
A investigação deveria ter sido concluída em dezembro do ano passado, mas, conforme o iG apurou, uma demora na entrega de documentos e informações da Petrobras solicitados pelo TCU atrasou o procedimento investigatório. Procurada pelo iG, a diretoria da Petrobras preferiu não se manifestar sobre o assunto.
Essas investigações do TCU já apontam que as negociações em torno dos ativo da refinaria de Pasadena possam ter gerado um prejuízo de aproximadamente US$ 1 bilhão. Além disso, os procedimentos investigatórios também apuram a participação do ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, na compra da refinaria de Pasadena.
Costa foi preso na semana passada pela Polícia Federal (PF) como reflexo das investigações da Operação Lava a Jato, desencadeada pela PF para investigar ações de lavagem de dinheiro.
Blog do Kennedy: É baixa chance de criação da CPI da Petrobras
A PF também apura supostas irregularidades na compra da refinaria e não descarta irregularidades nos laudos técnicos que embasaram o negócio. Costa, por exemplo, é apontado como um dos responsáveis pela elaboração dos contratos de compra e venda da refinaria de Pasadena.
A apuração do TCU toma como base requerimento impetrado pela Comissão de Minas e Energia da Câmara, protocolado no órgão desde março do ano passado. Em junho do ano passado, o plenário do TCU determinou o início do procedimento investigatório. Atualmente, ele está no departamento técnico do órgão, no Rio de Janeiro, em fase final de conclusão.
A expectativa é que nas próximas semanas, as investigações do TCU sejam concluídas e o relator do caso, ministro José Jorge, possa expedir seu relatório para apreciação do órgão. O ministro informou na semana passada que, dependendo das investigações, pode pedir informações ao Conselho de Administração da Petrobras que participou da compra da refinaria.
Na semana passada, reportagem de O Estado de S. Paulo revelou que a presidente Dilma Rousseff, então integrante do Conselho de Administração da Petrobras em 2006, apoiou a compra da refinaria de Pasadena com base em um “relatório falso”.
Em 2006, a estatal pagou US$ 360 milhões à Astra Oil, correspondente a 50% da unidade com a intenção de refinar petróleo brasileiro nos Estados Unidos. Em 2007, a estatal brasileira tentou comprar o restante da refinaria, mas houve desentendimento com a Astra Oil. A Astra, então, ingressou com uma ação judicial obrigando a Petrobras a adquirir o restante da refinaria e a estatal foi obrigada a pagar US$ 820 milhões pelos 50% restantes. A Astra pagou apenas US$ 42,5 milhões pela sua parte do negócio. A obrigatoriedade ocorreu por conta de uma cláusula “put option”, em que um dos sócios é obrigado a comprar a parte do outro em caso de desentendimentos nas negociações.

Brasil não é lugar para brincadeiras, diz Joaquim Barbosa à TV

Presidente do STF diz que detesta cultura de 'tapinhas nas costas' na política brasileira, fala que já sofreu muito racismo, 'mesmo como presidente do STF', e nega ser candidato este ano

STF / Divulgação
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, descarta candidatura em 2014
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Joaquim Barbosa, disse não suportar a cultura do “tapinha nas costas” na política brasileira, onde tudo se resolve na amizade. “Nós estamos entre as dez grandes democracias no mundo hoje, das mais sólidas. Isso aqui não é lugar para brincadeira. E se faz muita brincadeira no Brasil, (...) no âmbito do Estado, nos três poderes.”
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O ministro falou em entrevista ao canal GloboNews, na madrugada deste domingo (22). Para ele, é graças a essa cultura que muitas decisões políticas no País são tomadas superficialmente, sem pensar nas consequências. “O Brasil é o país dos conchavos, do tapinha nas costas, o país onde tudo se resolve na amizade. Eu não suporto nada disso. Às vezes eu sou duro para mostrar que isso não faz o menor sentido em uma grande democracia como é a nossa”, disse. “Eu sou um companheiro inseparável da verdade. Eu não suporto história do sujeito ficar escolhendo palavrinhas muito gentis para fazer algo inaceitável, e isso é da nossa cultura. O sujeito está fazendo algo ilegal, inadmissível, mas com belas palavras, com gentilezas mil. Longe de mim esse comportamento. Isso é fonte de boa parte dos momentos de irritação que eu tenho.” Questionado se outros ministros do STF não se irritariam com a declaração, Barbosa foi direto: “Liberdade de expressão, eu também tenho”.
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Barbosa negou que haja interferência do Judiciário sobre os outros poderes, como é acusado por muitos parlamentares. “A Constituição de 88 é muito analítica. Ela teve a pretensão e a ambição de querer regulamentar toda a vida social, e com isso ela deixa, por ser vaga, por ser incompleta, por depender de regulamentação por parte do Congresso em vários aspectos, ela permite que o STF faça essa integração, uma vez constatada a inércia do Congresso. São mecanismos previstos na própria Constituição”, defendeu. E citou seu voto sobre a manutenção de mandatos de políticos no caso de infidelidade parlamentar. “A perda de um mandato parlamentar, decretada por outro poder, é uma das medidas mais graves que pode ocorrer no sistema de separação de poderes como o nosso.”
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O ministro disse não gostar de ser associado a histórias de superação pessoal por causa de sua infância pobre, e disse já ter chorado por ter sido vítima de racismo, o qual sente até hoje, “mesmo ministro do STF”. “É falta de honestidade intelectual dizer que o Brasil já se livrou dessas marcas, elas estão presentes nas coisas mais comezinhas da nossa vida social.” Ele afastou a versão de que foi indicado para ser ministro da Corte por ser negro, mas criticou o presidente Lula, autor de sua indicação, por ter lhe convidado para comitivas para países africanos para fazer “marketing” do Brasil. “Eu espero que minha presença aqui (no STF) tenha contribuído para ‘desracializar’ o Brasil, para que as pessoas percebam que não há papel par a, b ou c.”
Mensalão e eleições
Sobre o processo do mensalão, o mais longo da história do STF, ele disse que tratou com naturalidade, mas não como os outros, porque não deveria ser e criticou quem diz que as penas dos condenados no julgamento mensalão foram muito pesadas, e disse que elas foram balizadas pelas penas criminais aplicadas pela corte. “Eu examino as penas que foram aplicadas no mensalão, nas penas que foram aplicadas e chanceladas pelo STF, pelas turmas aqui, só que penas relativas a pessoas comuns”, disse.
Barbosa disse se considerar um observador da política nacional, apesar de ocupar a terceira cadeira de comando do País, como presidente do STF. “Prefiro me manter alheio a tudo o que passa aqui, na praça dos Três Poderes, que tenha caráter político”. Ele voltou a negar que irá ser candidato nas eleições deste ano, mas não descartou concorrer a um cargo eletivo nos próximos anos. “Pode ser que sim, pode ser que não. Vai depender do meu humor ao sair daqui do tribunal.”

Com apoio de 20 mil, Senado vai discutir liberação da maconha

Criado para aumentar a participação social, portal e-Cidadania vai completar 2 anos com apenas duas propostas em discussão

RICK WILKING/REUTERS/Newscom
Fila para compra de maconha no Colorado (EUA)
Criado em maio de 2012 como resposta do Senado à necessidade de transparência, o Portal e-Cidadania tem como principal função receber sugestões de lei elaboradas pela própria população. Mas a dois meses de completar dois anos, apenas duas propostas atingiram a meta de 20 mil apoios virtuais necessários para ganhar o direito de ser debatido pelos parlamentares antes de virar projeto de lei. Uma delas é bem polêmica: a que regulamenta o uso recreativo, medicinal e industrial da maconha.
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A proposta foi oficialmente registrada no e-Cidadania em 30 de janeiro pelo carioca André Kepper, de 32 anos. Ao contrário das outras 1.330 ideias que chegaram ao site e ficaram pelo caminho, a dele precisou de oito dias para atingir as 20 mil recomendações necessárias, feito só alcançado por outra proposta até agora, a que regulamenta o marketing de rede (negociação de bens e serviços entre o fabricante e consumidor sem intermediários).
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Em sua proposta, Kepper explica que “o mercado não regulado da maconha causa violência, crimes e corrupção”. “A maconha deve ser regularizada como as bebidas alcoólicas e cigarros”, diz. “A lei deve permitir o cultivo caseiro, o registro de clubes de cultivadores, licenciamento de estabelecimentos de cultivo e venda da maconha no atacado e no varejo, além de regularizar o uso medicinal.”
Agora que já pode ser discutido, o texto foi entregue a um relator, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que terá a missão de debater o assunto na Comissão de Direitos Humanos para só então decidir se a sugestão de Kepper deve se transformar em um projeto de lei.
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“Não podemos rasgar o que o povo manda. Precisamos discutir e ter coragem de fazer um relatório e depois tomar uma decisão”, afirma Buarque, que pediu à Consultoria Legislativa um estudo sobre a viabilidade de transformar a ideia em projeto de lei.
Enquanto isso, na Câmara, o deputado Eurico Júnior (PV-RJ) protocolou um projeto de lei que propõe a legalização do cultivo e comercialização da erva no País. Decisão idêntica foi tomada pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) com uma proposta em contraposição ao projeto de Osmar Terra (PMDB-RS), que não só aumenta as penalidades para traficantes como não limita a quantidade da droga necessária para determinar se o portador é usuário ou traficante.
Dia 20: Deputado protocola projeto para descriminalização do uso da maconha
A polêmica vem ganhando as páginas do noticiário nacional principalmente depois que o Uruguai decidiu encarar o assunto de frente. Para Buarque, o Brasil também precisa discutir o assunto. “Eu não vou devolver o processo só porque é um tema tão polêmico. Eu vou assumir a responsabilidade de fazer um relatório com a posição que eu achar mais correta.”
e-Cidadania
Além das sugestões legislativas, a população protocolou 645 propostas de debate no e-Cidadania. Nesse caso, são necessários 10 mil apoios em três meses para que o debate seja despachado para alguma comissão. Até agora, no entanto, apenas uma audiência pública aconteceu: a que pede a contratação de fisioterapeuta nas empresas.

 

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