sábado, 26 de abril de 2014

UM COMBATE SEM TRÉGUAS

Carta ao amigo Paulo
- refletindo nossas conversas das terças-feiras a noite.

Por, Alvaro



Caro Paulo

Não vale a pena ser desonesto, você sabe e professa esse credo. A desonestidade intelectual de pessoas e grupos dominantes é a escada usada, como atalho, para chegar ao cume, aos píncaros da glória vazia a qualquer preço. Se o cinismo for a maior ferramenta de conquista e de sucesso no convívio social e se esta mesma mentirada for a maior ferramenta para uma rápida edificação política, é melhor continuar na planície social e viver na plateia da política, atuando apenas como eleitor. As distorções de métodos, a inversão de valores é uma aberração - mais aguda nos tempos modernos - uma prática rotineira, banal mesmo.

Os desonestos sobem rápido, mas isso não garante o sucesso deles para a eternidade. Mesmo que seja para a eternidade de alguns anos. Mas, o povo parece que gosta de ser enganado por promessas fáceis, arrogância crua, distribuição em gastanças desenfreadas e propostas de conteúdo ralo ou até mesmo insignificantes. Mas, mesmo que “a voz do povo seja a voz de Deus” não há garantia de que para onde pende a maioria a razão esteja lá. Pode-se enganar poucos muito tempo e muitos pouco tempo. Mesmo por que, a maioria, quase sempre está errada. A unanimidade é burra. Aqueles que são a exceção, os que não se deixam enganar facilmente, no geral tem o trabalho de pensar e refletir. Não fazem parte de manadas, claro. Por isso, quando a maioria erra é exatamente por que encarnou o espírito de manada, movido por puro egoísmo e infinito desleixo.

O homem medíocre não acredita no que vê – por que não sabe ver ou por que não quer ter o trabalho de interpretar. O homem medíocre acredita no que lhe dão pronto, que fica mais fácil de aprender decorando e repetindo – agindo com espírito de papagaio. E, a mediocridade parece ser universal neste momento. Quase ninguém se interessa pelo conteúdo, basta uma bela embalagem. Pensar dói. Escolher um lado é penoso por que sempre se  perde um pouco. Ficar em cima do muro é mais cômodo embora não dê crédito a ninguém. Os “muristas” são mercadorias baratas tipo 1,99. Eles são mentirosos, são equilibristas que vivem querendo agradar as diversas correntes; por isso, não têm a confiança de ninguém.

O que se vislumbra é uma verdadeira corrida atrás do ouro, das migalhas das minas de ouro dos poderosos. E, se a riqueza é a ferramenta para o domínio sobre as coisas, o poder é a ferramenta que se impõe controlando as pessoas. A riqueza pode produzir poder. Poder pode produzir riquezas. Para Nietzsche poder nada mais é do que a necessidade de mais poder. A compulsão por mais poder. Por isso, quem respira poder sempre quer mais e mais. Seu poço nunca enche e seu desejo nunca está saciado. Os poderosos nunca se contentam com o poder destrutivo dos demônios querem também o poder criador dos deuses. Querer tudo é querer ser Deus. Mas, Deus é único. Os poderosos não enxergam o outro, vem apenas ao redor de seu próprio umbigo. A dominação é uma arte. Mas, em momentos de improviso a arte pode virar banalidade e coisa piegas. Na dominação, quando se erra a dose, o paciente morre.


Na tentativa de sobreviver eternamente, a classe dominante criou pelo menos dois códigos de ética. Um código moral para os oprimidos que tem regras conservadoras e inflexíveis e um código para os próprios opressores que tem características de grande permissividade e flexibilidade.  Pedem paz aos dominados. Pedem paciência. Exigem cooperação aos dominados. Mas, não dão muito em contrapartida. Na verdade exigem sempre a genuflexão. E, ajoelhado estando o oprimido, este tem que rezar na cartilha do opressor. A opressão é um direito exclusivo do opressor. Para o oprimido, apontam a plateia, impõem as taxas, instituem as obrigações e a submissão eterna. Mesmo oprimido, o dominado não pode agir por revolta ou por defesa própria com instinto de sobrevivência. E, em nenhuma hipótese é permitido o confronto com o opressor, pelo menos com as regras do jogo que são sempre regras gelatinosas escorregadias. O opressor sempre vence, mesmo que seja no tapetão. Na opressão ou no tapetão.

A classe intelectual, no Brasil muito mais, respalda os ideais e ações dos dominadores, dos opressores. Seja na academia, seja entre artistas e profissionais liberais há uma preguiça intelectual de grande monta. Mamar nas tetas dos governantes parece ser um destino, uma vocação mesmo. Ninguém quer sair de sua aura de conforto. Ninguém quer suar a camisa, fazer força, enfrentar. Mas, não há dúvidas, quem coopera com opressores, opressor também é. Conivente é. Diz o filósofo brasileiro, Olavo de Carvalho, que construiu seu pensamento como autodidata que,  o traço mais característico da classe intelectual no Brasil contemporâneo é o seu espírito de solidariedade grupal mafioso, muito mais coeso, ciumento e impenetrável que o das corporações nos outros países. Na verdade, se dizem que Deus é brasileiro, certamente se esqueceram de dizer que no Brasil também o demônio não para de fazer lobe papa destroná-lo.

Não há dúvidas que é impossível conviver com o baguncismo institucional gerado propositadamente por tiranos da consciência alheia, que usam o cinismo como arma de defesa e a guerra de subterfúgios como comboio de ataque para abalar a crença na pureza da alma humana que alguns ainda nutrem, armando jogadas baixas, que visam denegrir moralmente as pessoas, aquelas que se contrapõem a eles, deixando-as desconfortáveis, inseguras e desmotivadas para continuarem convivendo com atitudes de cinismo e prepotência, de arrogância e de baixaria. Invertendo permanentemente as situações, marcham colando emblemas nas pessoas e cunhando símbolos que denigrem a imagem dos seus rivais ao tempo em que tentam, eles, destruir as reputações alheias. Pelo menos vão tentando. Usando o poder político, mas também o poder financeiro, saem distribuindo mimos para seus comandados e admiradores, mas também submissos, no intuito de cooptar esses fracos e mantê-los sob seu domínio. Quando encontram alguém com altivez para confrontá-los, partem para a baixaria, usando tudo que podem, para enfraquecer, neutralizar ações e destruir quem se atreve a lhe atravessar o caminho. Não estão acostumados com pessoas independentes que não precisam vender suas almas. Não suportam o não. Não aceitam a contrariedade. Não sabem conviver com a independência e com a liberdade de pensamentos e ações.

Agora, esta peça que caminha para a conclusão, não ficaria completa se não propusesse caminhos para neutralizar esses pecadores empedernidos, para enfrentá-los mesmo. Não vejo outra forma que não seja o confronto político – de idéias e de ações concretas. A metodologia a ser usada é tombar com eles, é o desmascaramento permanente e sustentado dos seus planos e de suas edificações. É preciso escandalizar seus malfeitos na mídia, recorrer a instâncias superiores, tombar com o adversário dividindo a bola como fazem os bons zagueiros e não temer a luta contra os infiéis. Eles são como cascas de ovo –  pouco consistentes, frágeis e quebradiços. São como adolescentes - inseguros e vulneráveis. Revelando seus pecados sem pressa, a limpeza ética vai encontrando o caminho. Precisam ser venerados pois pensam que veneráveis são. Mas, enganam-se. Agora, é importante afirmar: A luta não pode parar; mesmo sem perder a ternura, devemos ser duros. Pois, desistir, nunca.







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