Carta ao amigo Paulo
- refletindo nossas conversas das
terças-feiras a noite.
Caro Paulo
Não vale a
pena ser desonesto, você sabe e professa esse credo. A desonestidade
intelectual de pessoas e grupos dominantes é a escada usada, como atalho, para
chegar ao cume, aos píncaros da glória vazia a qualquer preço. Se o cinismo for
a maior ferramenta de conquista e de sucesso no convívio social e se esta mesma
mentirada for a maior ferramenta para uma rápida edificação política, é melhor
continuar na planície social e viver na plateia da política, atuando apenas como
eleitor. As distorções de métodos, a inversão de valores é uma aberração - mais
aguda nos tempos modernos - uma prática rotineira, banal mesmo.
Os
desonestos sobem rápido, mas isso não garante o sucesso deles para a
eternidade. Mesmo que seja para a eternidade de alguns anos. Mas, o povo parece
que gosta de ser enganado por promessas fáceis, arrogância crua, distribuição
em gastanças desenfreadas e propostas de conteúdo ralo ou até mesmo
insignificantes. Mas, mesmo que “a voz do povo seja a voz de Deus” não há
garantia de que para onde pende a maioria a razão esteja lá. Pode-se enganar
poucos muito tempo e muitos pouco tempo. Mesmo por que, a maioria, quase sempre
está errada. A unanimidade é burra. Aqueles que são a exceção, os que não se deixam
enganar facilmente, no geral tem o trabalho de pensar e refletir. Não fazem
parte de manadas, claro. Por isso, quando a maioria erra é exatamente por que encarnou
o espírito de manada, movido por puro egoísmo e infinito desleixo.
O homem medíocre
não acredita no que vê – por que não sabe ver ou por que não quer ter o
trabalho de interpretar. O homem medíocre acredita no que lhe dão pronto, que
fica mais fácil de aprender decorando e repetindo – agindo com espírito de
papagaio. E, a mediocridade parece ser universal neste momento. Quase ninguém
se interessa pelo conteúdo, basta uma bela embalagem. Pensar dói. Escolher um
lado é penoso por que sempre se perde um
pouco. Ficar em cima do muro é mais cômodo embora não dê crédito a ninguém. Os “muristas”
são mercadorias baratas tipo 1,99. Eles são mentirosos, são equilibristas que
vivem querendo agradar as diversas correntes; por isso, não têm a confiança de
ninguém.
O que se
vislumbra é uma verdadeira corrida atrás do ouro, das migalhas das minas de
ouro dos poderosos. E, se a riqueza é a ferramenta para o domínio sobre as
coisas, o poder é a ferramenta que se impõe controlando as pessoas. A riqueza
pode produzir poder. Poder pode produzir riquezas. Para Nietzsche poder nada
mais é do que a necessidade de mais poder. A compulsão por mais poder. Por isso,
quem respira poder sempre quer mais e mais. Seu poço nunca enche e seu desejo
nunca está saciado. Os poderosos nunca se contentam com o poder destrutivo dos
demônios querem também o poder criador dos deuses. Querer tudo é querer ser
Deus. Mas, Deus é único. Os poderosos não enxergam o outro, vem apenas ao redor
de seu próprio umbigo. A dominação é uma arte. Mas, em momentos de improviso a
arte pode virar banalidade e coisa piegas. Na dominação, quando se erra a dose,
o paciente morre.
Na tentativa
de sobreviver eternamente, a classe dominante criou pelo menos dois códigos de
ética. Um código moral para os oprimidos que tem regras conservadoras e inflexíveis
e um código para os próprios opressores que tem características de grande
permissividade e flexibilidade. Pedem
paz aos dominados. Pedem paciência. Exigem cooperação aos dominados. Mas, não
dão muito em contrapartida. Na verdade exigem sempre a genuflexão. E, ajoelhado
estando o oprimido, este tem que rezar na cartilha do opressor. A opressão é um
direito exclusivo do opressor. Para o oprimido, apontam a plateia, impõem as
taxas, instituem as obrigações e a submissão eterna. Mesmo oprimido, o dominado
não pode agir por revolta ou por defesa própria com instinto de sobrevivência. E,
em nenhuma hipótese é permitido o confronto com o opressor, pelo menos com as
regras do jogo que são sempre regras gelatinosas escorregadias. O opressor
sempre vence, mesmo que seja no tapetão. Na opressão ou no tapetão.
A classe
intelectual, no Brasil muito mais, respalda os ideais e ações dos dominadores,
dos opressores. Seja na academia, seja entre artistas e profissionais liberais
há uma preguiça intelectual de grande monta. Mamar nas tetas dos governantes parece
ser um destino, uma vocação mesmo. Ninguém quer sair de sua aura de conforto. Ninguém
quer suar a camisa, fazer força, enfrentar. Mas, não há dúvidas, quem coopera com
opressores, opressor também é. Conivente é. Diz o filósofo brasileiro, Olavo de
Carvalho, que construiu seu pensamento como autodidata que, o traço mais característico da classe
intelectual no Brasil contemporâneo é o seu espírito de solidariedade grupal
mafioso, muito mais coeso, ciumento e impenetrável que o das corporações nos
outros países. Na verdade, se dizem que Deus é brasileiro, certamente se
esqueceram de dizer que no Brasil também o demônio não para de fazer lobe papa
destroná-lo.
Não há
dúvidas que é impossível conviver com o baguncismo institucional gerado propositadamente
por tiranos da consciência alheia, que usam o cinismo como arma de defesa e a
guerra de subterfúgios como comboio de ataque para abalar a crença na pureza da alma
humana que alguns ainda nutrem, armando jogadas baixas, que visam denegrir
moralmente as pessoas, aquelas que se contrapõem a eles, deixando-as
desconfortáveis, inseguras e desmotivadas para continuarem convivendo com
atitudes de cinismo e prepotência, de arrogância e de baixaria. Invertendo
permanentemente as situações, marcham colando emblemas nas pessoas e cunhando símbolos
que denigrem a imagem dos seus rivais ao tempo em que tentam, eles, destruir as
reputações alheias. Pelo menos vão tentando. Usando o poder político, mas também
o poder financeiro, saem distribuindo mimos para seus comandados e admiradores,
mas também submissos, no intuito de cooptar esses fracos e mantê-los sob seu
domínio. Quando encontram alguém com altivez para confrontá-los, partem para a
baixaria, usando tudo que podem, para enfraquecer, neutralizar ações e destruir quem
se atreve a lhe atravessar o caminho. Não estão acostumados com pessoas
independentes que não precisam vender suas almas. Não suportam o não. Não
aceitam a contrariedade. Não sabem conviver com a independência e com a
liberdade de pensamentos e ações.
Agora, esta
peça que caminha para a conclusão, não ficaria completa se não propusesse caminhos
para neutralizar esses pecadores empedernidos, para enfrentá-los mesmo. Não
vejo outra forma que não seja o confronto político – de idéias e de ações concretas.
A metodologia a ser usada é tombar com eles, é o desmascaramento permanente e
sustentado dos seus planos e de suas edificações. É preciso escandalizar seus
malfeitos na mídia, recorrer a instâncias superiores, tombar com o adversário
dividindo a bola como fazem os bons zagueiros e não temer a luta contra os infiéis.
Eles são como cascas de ovo – pouco
consistentes, frágeis e quebradiços. São como adolescentes - inseguros e
vulneráveis. Revelando seus pecados sem pressa, a limpeza ética vai encontrando o
caminho. Precisam ser venerados pois pensam que veneráveis são. Mas, enganam-se. Agora, é importante afirmar: A luta não pode parar; mesmo sem perder a ternura, devemos ser duros. Pois, desistir, nunca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário